MORTE: COMO AJUDAR CRIANÇAS A PASSAREM POR ESSE MOMENTO?

Recebo no consultório muitos pais com pedidos de ajuda a respeito da morte. A principal dificuldade é como ajudar os filhos a passarem pelo processo da morte de alguém da família ou de um bichinho de estimação.

A morte é um acontecimento natural da vida, mas nunca é desejada e esperada, mesmo quando anunciada por uma grave doença. Esse momento vem acompanhado de um grande pedido de revisão do que nós adultos sentimos a respeito dessa experiência. Quando alguém morre, somos alertados sobre a fragilidade da vida, a falsa sensação de controle que temos sobre as coisas e a incerteza de como seremos a partir dessa ausência física.

Nossa cultura nos leva a olhar a morte como algo antinatural, o que dificulta bastante a forma como lidamos com ela. Mas, basta acessarmos culturas orientais para percebermos que a compreensão de morte é encarada com maior leveza e naturalidade. Faz parte da vida e a gente pode ensinar as crianças que tudo tem seu ciclo de vida com começo, meio e fim. Como as estações do ano, que surgem em um determinado período e sutilmente vão transformando todo o cenário, nos mostrando vários pontos de vistas em relação às suas mudanças no clima, na vegetação, no nosso modo de se vestir e se comportar.

As crianças entre 5 e 7 anos já conseguem compreender a idéia de finitude da morte e por isso é muito importante falarmos a verdade sobre ela. Com amor e respeito, dizer que a pessoa morreu e a partir de agora não estará mais aqui. Mas, que ela pode ficar pra sempre no nosso coração, perto de nós através das nossas lembranças, e que é assim que podemos nos manter conectados à ela. Quando evitamos a verdade para aliviar a dor das crianças, dificultamos o processo de luto que todos precisamos viver para transformar a dor em uma saudade gostosa.

Perder alguém é um momento muito triste e um processo de luto precisa acontecer dentro da gente. Com as crianças não é diferente. Diante da noticia de uma morte passamos por 5 fases do luto. Nem sempre se dão nessa ordem e cada pessoa pode viver diferentes variações delas.

A primeira fase do luto é a negação. Algumas pessoas reagem com coragem e parece que está tudo bem. Conseguem contar para outras pessoas o que aconteceu e elas estranham essa rápida recuperação. Outras, vivem esse choque inicial à nova situação de maneira a não acreditar no que aconteceu, chorando compulsivamente. A segunda fase é a raiva que vem acompanhada da necessidade de acusar alguém como explicação para a morte. A terceira fase é a barganha. Tentamos negociar com a nossa própria consciência e/ou com Deus (ou qualquer outra entidade religiosa), acordos de mudança de comportamento para ter de volta a pessoa que morreu.Na quarta fase vivemos a tristeza. Nessa hora vem a culpa, auto acusações e sentimento de apatia e desprezo por tudo. Após reciclar todos os nossos sentimentos, podemos viver a aceitação do destino inevitável da humanidade, que tudo acaba, de um jeito ou de outro. Então, surge aquela sensação de conforto, os olhos começam a buscar novas paisagens e lentamente a vitalidade ressurge.

É importante que a gente deixe aberto um espaço para o diálogo e o acolhimento dessa criança, por que esse é um processo triste e doloroso para todos. A criança está junto nesse momento e a sua participação ou não nos rituais de passagem merece ser escolhida por ela. Conte como funciona o ritual e se ela não quiser ir, respeite, por que talvez essa seja uma experiência que ela ainda não quer viver. O importante é criar um ritual em que a criança possa se despedir. Isso pode acontecer através de uma carta, desenho, flor ou algo que ela escolha para representar este momento de despedida.

Isso tudo somado ao acolhimento dos familiares, amigos e aqueles que são próximos serão fundamentais para a criança se reestruturar com mais rapidez, retomar sua autoconfiança, se despedir deste ciclo, se abrir para o próximo e seguir com a sua vida.

Com amor,

Ana Flávia Fernandes

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